sábado, 31 de maio de 2014

Antisemitismo

Post resumo objetivo sobre anti-semitismo, de Daniel Golovaty Cursino:

 ...o antissemitismo tem pouco, ou mesmo nada a ver com a arrogância de Israel. Se a arrogância de um Estado produzisse racismo contra seu povo, isto deveria valer para todos, e não apenas para os judeus. Imagine a intensidade do racismo anti-germânico que se produziria no mundo após a Segunda Guerra Mundial! Sobretudo entre nós, judeus!

 Há um tempo, lendo um ensaio muito inteligente de Ernesto Sabato, que, por sua vez, é um comentário do brilhante ensaio do Sartre sobre a questão judaica, me deparei com uma afirmação surpreendente. Ele diz lá que o poder, e até a arrogância, de Israel, pode ser um fator de ATENUAÇÃO do antissemitismo. É bem contra-intuitivo, mas, do ponto de vista da psicanálise faz todo sentido. É que, na verdade, o sadismo é excitado pela situação de vulnerabilidade e fraqueza da vítima. A ideia de que Israel é responsável pelo antissemitismo é análoga àquela de que os judeus é que seriam culpados pelo ódio que contra eles é dirigido. Antigamente ( e mesmo hoje ), quando um membro de nossa comunidade se comportava mal, muitos diziam que isto era a causa do antissemitismo. Agora é Israel que se comporta mal...

 Também a ideia de que a causa principal do antissemitismo seria o anti-judaísmo cristão (e não só católico) está errada. Esta era uma ilusão dos judeus laicos do século XIX e início do XX que foi cabalmente desmentida pela história. Vamos lembrar que a maioria dos ideólogos nazistas também era anti-cristã. Existe uma relação de continuidade, mas também de ruptura, entre o anti-judaísmo medieval e e antissemitismo moderno. O judeu como figura demoníaca continua, mas é reelaborado em categorias pseudo-científicas. Longe de ser um resquício medieval, o antissemitismo é um produto estrutural das sociedades modernas, atravessadas que são pelos conflitos de classe e pela figura dominadora dos Estados-nações, que permanentemente secretam este veneno por seus poros. Sobretudo em Estados autoritários, como são os do Oriente Médio, que precisam construir a figura do inimigo interno e externo como base de legitimação.